Acidente com Gardel pouco lembra o parceiro paulista

Por Roberto Lopes

Nos últimos 75 anos, a lembrança do desastre que vitimou o cantor e compositor argentino Carlos Gardel na cidade colombiana de Medellín, a 24 de junho de 1935, tem deixado em segundo plano o desaparecimento, na mesma tragédia, do brasileiro Alfredo Le Pera, um paulista que havia completado seu 35 º aniversário duas semanas antes.
Gardel e Le Pera viajavam juntos em uma tournée que, depois da Colômbia, deveria levá-los ao Panamá e a Cuba. Le Pera era parceiro de Gardel em várias canções – como a popular “Por una Cabeza” – e roteirista de alguns dos seus principais filmes.
Os pais de Alfredo, Alfonso Le Pera e María Sorrentino, eram imigrantes italianos que se transferiram de São Paulo para Buenos Aires em 1902. Na capital argentina Alfredo começou a estudar Medicina, curso que abandonou para se formar em Jornalismo.
Mas Le Pera não demorou a ingressar no mundo artístico. Em fins dos anos de 1920 ele esteve no Chile como autor da companhia de revistas encabeçada por Enrique Santos Discépolo, com quem assinou o tango “Carrillón de la Merced”.
É possível que Gardel e Le Pera tenham se conhecido em Buenos Aires, mas os indícios são de que a amizade deles se desenvolveu em Paris, no ano de 1932, durante um evento promovido pela empresa americana Paramount. Foi Le Pera que estimulou Gardel a, no cinema, representar apenas a si mesmo.
Eis a letra composta por Alfredo Le Pera para a melodia de Gardel no sucesso “Por una Cabeza”:

“Por una cabeza de un noble potrillo que justo en la raya afloja al llegar
y que al regresar parece decir: No olvides, hermano, vos sabes que no hay que jugar...
Por una cabeza, metejon de un día, de aquella coqueta y risueña mujer
que al jurar sonriendo, el amor que esta mintiendo, quema en una hoguera todo mi querer.
Por una cabeza, todas las locuras
su boca que besa borra la tristeza, calma la amargura.
Por una cabeza si ella me olvida
que importa perderme mil veces la vida, para que vivir...
Cuantos desengaños, por una cabeza, yo jure mil veces no vuelvo a insistir
pero si un mirar me hiere al pasar, su boca de fuego, otra vez quiero besar.
Basta de carreras, se acabó la timba, un final reñido yo no vuelvo a ver,
pero si algun pingo llega a ser fija el domingo, yo me juego entero, que le voy a hacer".

0 comentários: