Veteranos das Malvinas revivem guerra a cada dia

Por Roberto Lopes

Estresse pós-traumático. Este é o diagnóstico para dezenas de veteranos de guerra e centenas de familiares dos militares argentinos mortos na guerra das Malvinas, 28 anos atrás.
Segundo o site “Gaceta Marinera” (www.gacetamarinera.com.ar), a Marinha da República Argentina destacou o psicólogo Alberto Rupen – um Capitão de Corveta da reserva – para percorrer as principais bases navais do país, fazendo palestras para civis e militares que não conseguiram superar a dura experiência de um confronto de grandes proporções.
“Ainda hoje persistem os sintomas de estresse pós-traumático”, explicou Rupen ao site, “porque aqueles que sofrem desse mal vivem a guerra a cada dia. Desde que ela se encerrou até o dia de hoje, todos os dias eles estão nas Malvinas”.
Rupen lida com as sequelas psicológicas do conflito há muito tempo, e profere suas palestras sempre na metade inicial de cada ano. A Marinha argentina invadiu as Malvinas na madrugada do dia 2 de abril, e as tropas de ocupação que Buenos Aires mandou para esse território insular tiveram que se render aos britânicos cerca de dois meses mais tarde, a 14 de junho. Mil militares argentinos morreram nas batalhas em terra, mar e ar; do lado britânico houve cerca de 300 vítimas fatais.
“Quando tratamos o veterano de guerra também devemos trabalhar com o seu núcleo familiar e sua vida privada, porque ainda que eles tenham sofrido na guerra, para eles é ainda pior o pós-guerra”, observa o psicólogo.
Rupen revelou os passos iniciais que devem ser dados na atenção a um veterano de guerra: “o primeiro passo é escutá-lo; porque se não o escutamos, ele imediatamente se fecha. O segundo passo é argumentar junto a ele com respeito e carinho”.
A Marinha argentina não tem idéia de quantos veteranos das Malvinas foram afetados pelo estresse pós-traumático, porque muitos dos que sofrem não informam acerca do que sentem.
Segundo Rupen, o trauma, nesses casos, equivale a uma ferida. “E quando uma ferida permanece aberta através do tempo, a ela se juntam outros problemas, ou, em outras palavras, ela vai se infectando”, explica o especialista. “Então, além de curar essa ferida, é preciso detectar quais são as outras seqüelas”, alerta.
O estresse pós-traumático é derivado de uma situação limite, onde a vida da pessoa correu perigo. Ele pode ter origem em um acidente, um assalto ou uma violação física. “Infelizmente, quem experimenta uma patologia dessas reexperimenta o que foi vivido através do tempo”, explicou o psicólogo.
A vítima do estresse pós-traumático ocasionado pela guerra manifesta sua condição de três maneiras: ao reexperimentar o ocorrido, ao evitar situações que evocam o tema dos combates, e ao demonstrar comportamentos estranhos à sua própria personalidade: alto grau de frustração, irritabilidade e sensibilidade exagerada àquilo que o cerca – a chamada “hipervigilância”.

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