EUA e Rússia vão ‘filosofar’ sobre vôos espaciais

Por Roberto Lopes

A Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos – Nasa -- convidará a Agência Espacial da Federação Russa – Roskosmos – a apoiá-la no desenvolvimento de uma conceituação filosófica capaz de respaldar as próximas etapas da exploração espacial, e deixar de lado expressões consideradas pejorativas e prejudiciais ao esforço do homem nesse campo científico – como a de “aventura no espaço”.
Entretanto, segundo a imprensa americana, a notícia está ligada menos ao pensamento do que mais ao bolso. A idéia da Nasa – que já teria sido discutida com sua congênere russa – é tornar o programa espacial americano menos suscetível aos cortes de verba. Uma reportagem do jornal “Boston Globe” informou, no fim de janeiro, que a necessidade de se estabelecer um “pensamento espacial” nos Estados Unidos data da penúltima década do século 20, mas sofreu um lamentável – e trágico -- contratempo.
A má notícia acaba de completar 24 anos. Ela veio na manhã da terça-feira, 28 de janeiro de 1986, quando um vazamento de combustível ocasionou a explosão da nave Challenger, que subia ao cosmos para fazer o voo designado como “Missão 51-L”.
Entre os sete tripulantes mortos no acidente, havia duas mulheres. Uma delas, a professora Christa McAuliffe, havia se preparado para ministrar, da órbita terrestre, duas aulas: uma sobre a rotina a bordo da nave e outra, batizada com o título “onde estivemos, para onde vamos, e porquê” – na verdade, um planejamento educacional destinado não só a agilizar a conscientização de estudantes acerca da importância tecnológica da pesquisa espacial, ele também lançaria as bases de um pensamento filosófico acerca da exploração do cosmos.
A imagem da bola de fogo consumindo a Challenger e seus tripulantes atrasou em duas décadas a iniciativa da Nasa no delicado campo da Filosofia.
No Brasil o programa espacial ainda é visto como um luxo, mas a verdade é que dele dependem diferentes atividades de controle da vida em terra e na faixa litorânea sob a jurisdição do governo federal.
A pesquisa espacial brasileira é quase tão antiga quanto a dos Estados Unidos e a da Rússia, mas hoje está atrás até mesmo dos experimentos feitos nessa área por Índia, Paquistão, Japão e as duas Coréias. Em 1985, o programa do Brasil chegou a gastar quase 200 milhões de dólares – quantia que representou o auge do empenho oficial no setor. O investimento atual da Índia já é de 700 milhões anuais. O da China deve passar de 1 bilhão -- e, mesmo assim, é bem menor do que o americano.
Em 1985, quando os russos lançaram ao espaço a estação orbital Mir, os americanos tomaram um choque. Eles perceberam que ficavam para trás na corrida espacial, e reagiram com o projeto de transformar a Mir em um laboratório médico capaz de diagnosticar as conseqüências, para o ser humano, das longas permanências no espaço.
Foi o então presidente Bill Clinton que, nos anos de 1990, enxergou a possibilidade de transformar o vôo da Mir em modelo para uma nova era de cooperação mundial a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS). Mas os 90 bilhões de dólares que os trabalhos na ISS vão consumir até 2015 ainda dão o que pensar a muita gente. E a Nasa estima que esse bem-sucedido programa de compartilhamento de experiências científicas não terá vida útil além dos seus próximos cinco anos.

0 comentários: