Britânicos estudarão Sociologia através do iê-iê-iê

Por Roberto Lopes

O Departamento de Sociologia da Universidade de Oxford trabalha sobre a ementa de uma nova disciplina – de ênfase renovável anualmente --, para propiciar o estudo das transformações sociais através de manifestações artísticas especialmente marcantes.
O Cubismo – movimento de bases lançadas entre 1907 e 1914 que tratava as formas da natureza por meio de figuras geométricas, sem compromisso com a aparência real das coisas (e teve Picasso e Braque entre seus principais fundadores) – e a Bauhaus – escola de design, artes plásticas e arquitetura de vanguarda do período 1919-1933 --, estão entre as expressões artísticas selecionadas para ilustrar as mudanças sociológicas. Mas a primeira manifestação a ser aproveitada como “gancho” para esse estudo será a obra musical da banda inglesa The Beatles.
A nova metodologia deve ser implementada em 2011, cinco anos depois de o jornalista inglês Steve Turner ter lançado o livro The Gospel According the Beatles, onde faz um estudo das 208 canções do grupo, e do papel que elas tiveram na conturbada sociedade britânica da década de 1960.
A escolha dos Beatles desperta, em parte do corpo docente de Oxford, certa cautela. Professores da instituição advertiram sobre o caráter nefasto de determinadas fases do conjunto – como a da gravação, em outubro de 1969, de seu penúltimo álbum, Abbey Road. Em seu livro – lançado no Brasil como “The Beatles - A História por Trás de Todas as Canções" (Cosac Naify, tradução de Alyne Azuma, 384 páginas) --, o jornalista Turner define esse LP uma apologia à atuação de Timothy Leary – ativista considerado o guru do ácido lisérgico (LSD).
Desde a época em que vestiam roupas de couro preto, em 1962, até a dissolução do grupo, em 1970, os Beatles exerceram fortes influências nos quatro cantos do mundo. Seu álbum Revolution, de 1968, foi uma resposta desafiadora aos jovens burgueses que saíram às ruas, em maio daquele ano, sob a liderança do então ativista anarquista alemão Daniel Cohn-Bendit (hoje um político do partido comprometido com a causa da ecologia Die Grünen), pregando a revolução maoísta.
As letras do grupo inglês, acompanhavam a evolução social e cultural da época sem medo de desagradar reacionários ou revolucionários.
Turner lembra que o argumento de John Lennon, porta-voz político dos Beatles, era o seguinte: “todos falam em destruir o sistema, mas acabam colocando um monstrengo pior em seu lugar”.
De acordo com o pesquisador inglês, em Revolution John, Paul, George e Ringo diziam, explicitamente, que os ativistas não deviam contar com eles nas barricadas, se fosse para engolir a velha história do sistema. Lennon argumentava: Os franceses não haviam inventado essa lenda de liberdade, igualdade e fraternidade? Ao que isso levou? À guilhotina. Os russos não colocaram o trem do marxismo para rodar? E ele não saiu dos trilhos?
A sintonia da banda inglesa com o seu tempo era incontestável – e, possivelmente, a razão maior de seu estrondoso sucesso.
A faixa She’s Leaving Home, do LP Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, se inspirou numa notícia de jornal, sobre uma jovem adolescente londrina, de 17 anos, que fugiu de casa.
A dupla Lennon-McCartney estava sempre antenada. Em 1967, segundo o FBI (Polícia Federal americana), 90 mil outros jovens fugiram de casa nos Estados Unidos – uma rebeldia contra os padrões educacionais da época. A canção dos Beatles, não havia dúvidas, se justificava. E ela foi mesmo um sucesso.

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