Raça humana

Barack Obama foi eleito ontem o primeiro presidente negro dos Estados Unidos com a participação de 66% dos eleitores registrados para as eleições presidenciais desse ano. É um marco na história, não só dos americanos, mas do Planeta (já que o País é referência para o resto do mundo). Vários jornais e programas de tevê mostraram a torcida de outros países pela vitória de Obama. A imagem de um homem negro à frente da Casa Branca é motivo suficiente para uma grande comemoração e, também, para muita polêmica.
Aqui no Brasil, dia 20 de novembro, será comemorado, pela segunda vez, o Dia da Consciência Negra. Instituída pelo Movimento Negro Unificado e, sancionada pelo presidente Lula da Silva, a data foi estabelecida como parte do calendário escolar brasileiro. Fora isso, há leis que já garantem uma porcentagem das vagas para negros e pardos nas escolas e universidades públicas do Brasil. Nesse momento sou a primeira a questionar o que sou. Filha de italianos, espanhóis e índios, por parte de pai e, argentinos, negros e índios, por parte de mãe. Sou negra, parda? Poderia me utilizar tranquilamente desse item para ser privilegiada, não é?
Recentemente, na eleição para prefeito de São Paulo, a sexóloga Marta Suplicy, bem antes de chegar à carreira política, foi árdua defensora pelos direitos da mulher e dos homossexuais. Décadas depois, permite uma campanha, duas semanas antes do 2º turno, em que se questionava, de maneira muito subjetiva, a orientação sexual do candidato da oposição. Como se o fato de um governante ser ou não ser casado, ser ou não ser homossexual, ou, ter ou não ter sua vida particular e pessoal exposta fosse uma questão determinante na hora da escolha do voto. Afinal o que se julga, em época de campanha, são as propostas dos candidatos e não a vida pessoal.
O fato é que Barack Obama não é a favor de cotas para negros e o Brasil, apesar dos minúsculos biquínis e diversidade cultural (não estamos falando de raça porque raça só existe uma: humana) ainda é um país extremamente preconceituoso. E o que leva alguém a admirar um personagem do cinema ou da novela impregnado de características populares (como por exemplo, a bicha afetada que dita modismos, o negro pagodeiro divertido) e ser resistente a repensar, nos momentos mais importantes de um cidadão, seus valores e referências de mundo?
Olhar para o outro exige, acima de tudo, um foco muito mais panorâmico. Para se pensar em direitos iguais e respeito, é imprescindível que todos sejam tomados pelo mesmo patamar: somos todos seres humanos dignos de liberdade de expressão e direitos e deveres iguais.
E por que o homem ainda insiste, mesmo depois de tantas mudanças sociais e culturais, em manter e até a exacerbar as mesmas diferenças? Esse pensamento vicioso é uma espécie de resistência do inconsciente coletivo? A que e por quê? Quais são os mecanismos subjetivos que o sistema aplica sobre a massa para que a “ordem e os bons costumes” se mantenham estáveis e imutáveis? De que maneira a psicologia pode auxiliar essa mudança de comportamento?


* Cristina Livramento é editora da Psique.

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