Santa Catarina, meu nome é descaso

Por Cristina Livramento*

Com números trágicos, a chuva em Santa Catarina matou 117 pessoas (até dia 2 de dezembro) e deixou cerca de 70 mil desabrigados. O governador do estado de SC, Luiz Henrique da Silveira, em decreto assinado dia 27, colocou 12 municípios em estado de calamidade pública, num total de 1,5 milhão de pessoas afetadas pela tragédia e 24 estradas prejudicadas em toda região Sul.
O que mais chama a atenção não são os números, nem a tragédia em si, mas a ausência de questionamentos e punição dos responsáveis pela tragédia. Sem falar que Santa Catarina, em época de chuva, sempre tem alagamentos. Segundo o climatologista do Instituto Nacional de Pesquisas (INPE), Carlos Nobre, em entrevista para o Bom Dia Brasil, o sul do Brasil tem uma característica importante por ser o lugar onde as massas de ar quente e úmidas que vêm do norte e as frias e secas que vêm do sul se encontram. E suspeita-se que o aquecimento global já tenha alguma coisa a ver com isso.
São dados comentados há décadas. Não é a primeira cheia do estado e é fato que a região é a mais afetada. Para a indiana Debarati Guha-Sapir, diretora do Cred (Centro de Pesquisa sobre Epidemiologia de Desastres), da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, para o jornal Folha de S. Paulo, o problema do Brasil é a falta de vontade política. O Cred tem um banco de dados, usado pela ONU, com registros em todo o mundo desde o início do século 20 e o Brasil é o sexto país mais afetado por cheias desde 1980.
Frente a qualquer tipo de desastre, o país pode tomar ações preventivas, como zoneamentos que impeçam construções em áreas de alto risco e treinar comunidades para onde ir em casos de alerta. Em casos específicos de enchentes, há várias opções. Debarati diz que as opções de engenharia são de baixo custo como barragens e transposições de cursos d’água. “O Brasil não é um país pobre, tem uma população suficientemente instruída e uma boa renda per capita. A capacidade não é tão problemática quanto a vontade política do Estado de assumir a necessidade de trabalhar para reduzir os danos de enchentes e inundações.”
Em resumo. A tragédia em Santa Catarina poderia não ter acontecido se não fosse o descaso dos governos Estadual e Federal (apenas 13% da verba destinada para prevenção de catástrofes como essa no estado, foi usado). Não é por falta de aviso. Mas o pior nesse quadro estatístico, é o comportamento de uma população – brasileira – que não acompanha, não fiscaliza, não exige de seus políticos a responsabilidade governamental que lhes cabem. E se vangloriam por um espírito de solidariedade. Mais do que doar roupas, remédios e alimentos, a população precisa apreender a ser partícipe de qualquer governo. Senão, as tragédias – mais do que já são – se tornarão cada vez mais “normais” e que sempre se encaixam em frases do tipo: - “Fazer o quê, né? Não adianta reclamar, a vida é assim mesmo.”
Qual o traço psicológico dos países desenvolvidos? Por que os países se diferem tanto entre eles? O que faz uma população ser presente e consciente de seu papel social?



* Cristina Livramento é editora da Psique.

0 comentários: