*por Paula Felix Palma
Na quinta-feira passada assisti a uma aula sobre Nietzsche ministrada pelo filósofo e escritor Amauri Ferreira, na livraria Sobrado, o que me instigou a falar aqui também sobre o instigante pensador. A aula abordou vários outros aspectos, como questão da vontade de potência e as forças ativas e reativas, que gostaria de desenvolver mais em outras oportunidades e que farei mais para frente (e outros aspectos sobre ele que vocês podem sugerir também).
Mas hoje quero falar do filósofo que marca pela ruptura, pelo estilo e pelas coisas que diz. O estimulante de Nietzsche é o fato de ele querer se desvincular de todos os modelos e valores prontos e tentar novos rumos na Filosofia, que não se basearam no que já havia sido dito. Acredito que a maior proximidade se dê com o pensamento de Espinosa, que mostrou traços de ruptura em sua obra, sendo considerado por isso como o rebelde de Amsterdã, onde nasceu. (http://bibliotecanomade.blogspot.com/2008/03/arquivo-para-download-nietzsche.html. Este é o link de um artigo de André Martins, em que ele faz uma aproximação do pensamento de Nietzsche e Espinosa, sugerido por Amauri).
Portanto, esse é um ponto que me acalora também, talvez por serem atuais, mais do que nunca, seus questionamentos e idéias. Para onde vamos, qual é o nosso objetivo de vida, o que buscamos? Todas essas questões poderiam ser explicadas por Nietzsche como a vontade de potência. Essa vontade é intrínseca ao homem, é o que buscamos sempre. Mas ela pode ser “mascarada” pelos valores e modelos em pauta.
Explico: seguindo essas formas e valores é como se o homem buscasse essa potência de fora dele. É algo que não pertence a ele, mas a alguém que inventou essas regras. Nietzsche, em sua Genealogia da Moral, tenta descobrir de onde vem esses valores e para quem eles servem. O que gera um valor, afinal?
Nesse caso — aquele do homem que segue o molde —, é possível sim experimentar um aumento de potência, mas acaba por ser efêmero. Podemos usar como belo exemplo as religiões. Todas elas se constituem pela falta do homem. É um ideal ascético, uma falsificação da vontade potente, negação da realidade. Ou seja, essa potência, que vem de fora, vai logo diminuir e o homem precisará de novos objetivos.
O capitalismo, com todo o seu ideal do consumismo, também serve de exemplificação para a vontade de potência que nega o devir. Adaptar-se a esses valores ou quaisquer outros é a negação do devir. Ou seja, você chegará a um ideal material que logo vai te deixar vazio de novo e te fará buscar novos ideais.
Diante disso tudo, acho que podemos questionar alguns pontos: será possível escapar desses modelos? Como viver à margem dos valores que a sociedade adquire para si, em cada momento histórico? E como seria uma sociedade de forças ativas — que é aquela, segundo Nietzsche, em que o homem consegue fugir dos modelos e aí sim, criar. Para que serve a moral e os valores, então?
Sei que há muito mais a se falar sobre o tema. Que esta seja esta apenas a semente para a nossa discussão!
"Muito freqüentemente observo que sim, a cega diligência traz riquezas e honras, mas também priva os órgãos daquela finura que tornaria possível a fruição de riquezas e honras, e noto, igualmente, que esse grande antídoto para o tédio e as paixões torna embotados os sentidos e faz o espírito refratário a estímulos novos." - A Gaia Ciência, 21
* Paula Felix Palma é editora de Filosofia Ciência & Vida (Nas bancas, a edição 25 - Contra as idéias de Marx e Morus - A pós-modernidade e o capitalismo trazem críticas à UTOPIA, rebatendo conceitos defendidos por esses pensadores)
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